terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Para além da intelectualidade

Cair no hábito dos entusiastas que descrevem a música e empinam o dedo indicador para escarrar alguma crítica e observação acerca dos funks, pagodes, sertanejos, batidões de então – manifestações populares do Brasil, um material sociológico aos pesquisadores que desejarem concluir algo - é tendência da maioria dos levantamentos dos “degustadores” de Música. Ora, vejam então o crime que cometem nossos intelectuais, não contra o alvo de suas críticas, mas contra eles mesmos e contra as posições sociais à liberdade e escolhas de comportamento. Claro que dentro disso, a atitude de observar também é um direito adquirido e confere às pessoas um exercício de personalidade, individualidade e efetivação; mas senhores, é original e substancial apontar incorreções, quando a pretensão parece ser organizar um cardápio cheio de cânones que indique os detentores da compreensão e da expressão musical no país? Observem que os elementos tangíveis de uma música podem ser de estilo, de timbre, de harmonia, de melodia, de arranjo, portanto sonoros, mas também podem existir em outros paradigmas, podem denotar e reunir valores sociais de coletividade, de urbanidade, de descontração, ou como diz Engenheiros do Hawaii numa música: de não beatlelação.
Esse compromisso, essa cobrança e doutrinação, que nomeia e santifica possíveis expoentes e ícones culturais, faz isso com a mesma mobilidade com que os afasta e os torna distantes e inacessíveis. Parecem tão falhos, porque na medida em que idealizam um terreno fértil de bons frutos e boas sementes, esterilizam tudo e congelam suas conclusões no já celebrado e batido caviar expelido pelos nossos esturjões da música. A guerra da qualidade não é mais a inquietação para a produção, para o sobressaltante, é uma guerra de egos e umbigos, para ver quem são os que se aproximam mais da inteligência que irradiam os consagrados heróis da arte.


                              " Água sanitária e banho de refinamento."


Não confundam, esse artigo não quer crucificar, por exemplo, um Chico Buarque, ou uma Elis Regina; a rejeição não é ao material ou ao conteúdo, mas sim à tendência e ao uso de tomar e manipular isso para afirmar uma grandeza elitizante que é recheada de preconceitos e, em termos políticos, até próxima ou paralela aos requintes semânticos e metódicos de um Goebbels. Por que não? "Vamos eleger o ariano, o puro. É hora da assepsia, vamos higienizar a música brasileira, cantar o Parsifal, encontrar um Richard Wagner, colocá-lo no teatro de Bayereuth e escutar música sempre sentados".

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